No Brasil, 38% das empresas com atividade internacional sentem-se significativamente mais seguras em relação à política comercial do que há seis meses, bem acima da média global de 27%, sugerindo uma melhor adaptação às atuais condições do comércio.
Diante das mudanças nas tarifas e da incerteza comercial, 56% das empresas brasileiras precisam de apoio em planejamento de crise ou resiliência empresarial (vs. 42% da média global) e 52% precisam de ferramentas para gerenciar riscos comerciais (vs. 42% da média global).
45% das empresas brasileiras entraram em novos mercados e expandiram para regiões menos afetadas por interrupções no comércio (vs. 33% da média global).
As empresas com atividades internacionais estão se adaptando a uma nova realidade no comércio global. Elas vêm implementando diferentes estratégias para vencer os desafios comerciais e tarifários atuais e, ao mesmo tempo, administram o aumento dos custos e as pressões sobre o capital de giro. Essa é a conclusão da pesquisa Global Trade Pulse do HSBC, que reuniu insights de 6.750 decisores em 17 mercados sobre tarifas e comércio, incluindo o Brasil.
Clareza e confiança impulsionam a adaptabilidade
Após um primeiro semestre desafiador em 2025, as empresas estão encontrando o equilíbrio e têm mais clareza sobre o cenário comercial e tarifário. A pesquisa global revela que 67% delas sentem-se mais seguras sobre o impacto da política comercial nas operações do que seis meses atrás, enquanto 77% afirmam que conseguem entender facilmente as recentes mudanças na política comercial. Esse crescente sentimento de certeza é um primeiro passo crucial para permitir que as empresas tomem decisões baseadas em informação e planejem o futuro.
Ao mesmo tempo, em que cada vez mais as empresas entendem o novo cenário comercial, as preocupações com a receita vêm diminuindo de forma acentuada: apenas 22% temem perdas severas de receita acima de 25%, uma queda em relação aos 37% de seis meses atrás. 53% das empresas esperam que as receitas aumentem nos próximos seis meses. Nos próximos dois anos, a expectativa é maior, 58% no mundo.
Tendências de mercado
A preparação para as regulamentações comerciais surgiu como um motor importante para a adaptação empresarial, permitindo que as empresas respondam melhor às mudanças políticas e façam ajustes estratégicos. As empresas nos EUA sentem-se mais preparadas para as mudanças na regulamentação comercial, com 52% delas sentindo-se bem-informadas e preparadas, em comparação com 35% na Europa e 32% no Leste e Norte da Ásia.
Além da diversificação, as empresas estão buscando novos corredores comerciais para aumentar resiliência contra a instabilidade. A Europa e o Sudeste Asiático são os principais destinos para expansão (40% e 36% respectivamente), seguidos pela América do Norte e Leste/Norte da Ásia (ambos 32%). As empresas do Sul da Ásia lideram em priorizar a Europa, sendo que 55% visam a expansão para região. Por outro lado, a América do Norte é onde as empresas planejam reduzir mais a dependência (22%), seguida pela América do Sul (16%). Essa reorientação sinaliza um reequilíbrio deliberado dos fluxos comerciais globais.
Vinicius Pergola, Global Trade Solutions Country Head, diz: “Apesar das negociações globais e das tarifas variáveis, as empresas parecem estar se estabelecendo num estado de adaptação constante. A maior clareza sobre o comércio e sobre as tarifas encorajou as empresas a planejar o futuro com antecedência, com muitas delas vendo o comércio internacional não como um risco, mas como uma oportunidade para se reinventarem”.
Estratégias de adaptação diversificada e corredores comerciais impulsionam a resiliência
As empresas implementam uma gama de estratégias para mitigar os riscos comerciais, salvaguardar a competitividade a longo prazo e adaptar-se a um ambiente comercial volátil. Mais de três quartos (76%) tomam múltiplas ações em resposta ao aumento dos custos, como repassá-los para os clientes, renegociar contratos e investir em automação e IA.
A expansão internacional e a reformulação dos modelos de receita continuam a ser prioridades-chave para as empresas globais. Metade de todas as empresas planeja entrar em novos mercados, 47% reequilibram produtos e serviços e 43% exploram fusões ou aquisições. 75% das empresas reavaliam ou já fizeram alterações nos locais onde as principais atividades de processamento e montagem ocorrem — um sinal claro de que o mapa da cadeia de fornecimento global continua a mudar em resposta à evolução dos riscos e oportunidades.
Globalmente, a confiança nas ambições comerciais a longo prazo permanece robusta. 88% dos inquiridos esperam aumentar o comércio internacional nos próximos dois anos. Ao mesmo tempo, 75% das empresas internacionais afirmam que a incerteza comercial as incentivou a evoluir e a explorar novas oportunidades — um sinal de que as mudanças no comércio estão atuando como um catalisador para a reinvenção, não para o recuo.
A diversificação é também um tema central na gestão da interrupção comercial. 84% das empresas diversificam as cadeias de suprimento — sendo que a estratégia de adaptação da cadeia de suprimentos a mais relatada pelas empresas. As grandes corporações lideram: 44% das empresas com receitas anuais acima de 2 bilhões de dólares já diversificaram as suas cadeias de suprimentos, em comparação com 37% daquelas com receitas abaixo de 500 milhões de dólares. Isto indica que a escala e a disponibilidade de recursos desempenham um papel fundamental na eficácia com que as empresas podem gerir a volatilidade comercial.
As pressões sobre custos e receitas persistem
Embora as empresas tomem medidas proativas para fortalecer a resiliência, as pressões financeiras relacionadas com o comércio persistem. A pesquisa mostra que a receita permanece vulnerável às políticas comerciais que estão em mudança. As empresas que dependem totalmente de bens estão mais expostas a impactos na receita como resultado da incerteza comercial: 42% deste segmento relatam um impacto negativo nas receitas em comparação com seis meses atrás, em oposição a 33% das empresas de serviços.
As pressões sobre os custos também aumentam. Dois terços (66%) das empresas esperam que os custos aumentem nos próximos seis meses, impulsionados principalmente por tarifas e direitos aduaneiros (54%) e por custos mais elevados de envio e frete (47%).
Pergola acrescenta: “Embora as pressões de custos e receitas persistam, as empresas estão cada vez mais focadas no futuro, realinhando as cadeias de suprimentos, buscando novos mercados e construindo a resiliência financeira necessária para prosperar no meio da imprevisibilidade”.
Fonte: Regista empreende